segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

"Tantas vezes pensei 'isso aí não é pra mim!'... Não sou hippie, não sou xiita, não sou radical e não tenho uma horta no meu quintal!…"



O background:
Engravidei pela primeira vez e o ato do nascimento não fugiu ao que nos é apresentado como bom e seguro: a cirurgia cesariana.
Não que eu não quisesse o parto normal, eu queria e muito! Julgava que minha vontade e condição física fossem os fatores determinantes para que acontecesse mas depois, descobri que não eram.  No meu caso, o "cordão assassino" (circular de cordão umbilical) foi o responsável pela indicação de cirurgia. Uma pena... Mas, penso que se tivesse tido aquele parto normal, talvez você não estivesse lendo este relato agora. Vai saber...
Relevei, esqueci... Quer dizer, tentei esquecer, mas nao consegui!! Tinha uma farpinha lá dentro... Virava e mexia, ardia, inflamava, doía, mas eu negava. Claro que negava! Quando vc tem um filho de uma forma que não gostaria, (no meu caso, através de cirurgia) vc tem que focar no seu bebê. Não vale a pena, em pleno puerpério, ficar remoendo, questionando, amargando... Por sanidade, por aleitamento, por amor a você e sua família!
Respeitei o meu momento. O que passou, passou e não dá pra voltar atrás. Mas dá pra buscar informação, dá pra entender o que, de fato, aconteceu. Dá pra planejar o futuro que desejava que fosse diferente. E assim começou a minha busca pelo meu VBAC.

Desta vez será diferente!
Antes mesmo de engravidar pela 2a vez, após muita leitura e busca de informação, tive uma conversa com meu marido sobre um próximo parto. Me lembro que estávamos descendo a serra, à caminho do litoral, e batemos um longo papo sobre a minha vontade em buscar uma outra forma de nascer. A primeira reação dele foi de espanto e questionou: "mas pra que isso? A Duda nasceu tão bem! Foi cesárea, mas ela é tão forte, tudo deu tão certo!... E o Dr. Fulano foi tão sensacional, etc, etc..." E conversamos sobre a minha insatisfação, sobre a minha vontade e sobre evidências científicas… Enfim, chegamos em São Sebastião já com o veredito do marido: "Ok, essa decisão é sua e eu vou te apoiar!" E assim foi. 

A escolha do médico:
Comecei então a minha busca por um médico humanizado. Eu sabia que essa escolha seria a única forma de realizar o desejo de ter um parto normal após uma cesárea. Não havia outro caminho.
Fui à busca do mais experiente. Este era o requisito número um: encontrar o médico referência no assunto.
Lá fui eu pra internet e por tudo o que li e pesquisei, o nome era Jorge Khun.

Positivo! Grávida! Q alegria!
5 semanas de gestação, consulta agendada para a semana seguinte com Dr. Jorge e um pequeno sangramento... Ligo na Casa Moara, explico a situação e prontamente, a secretária (que nunca tinha me visto, nem sabia quem eu era), me deu o celular do médico e me encorajou a conversar diretamente com ele. "Q postura bacana", pensei.
Liguei:
- Dr Jorge, sou sua futura paciente, rs...
- Que bom! Como posso te ajudar?
Resumindo, naquele mesmo dia, passei em consulta para análise clínica e saí do consultório muito feliz! Primeiro por saber q estava tudo bem e segundo por ter a certeza de que havia encontrado o médico que procurava!

O pré-natal:
Cada consulta era renovadora. Sempre saia do consultório mais empoderada, com mais certeza de que havia tomado a decisão certa. Isso me movia!
Em paralelo às consultas, valorizei muito o meu preparo físico e emocional. Fiz  musculação e hidroginástica para aumentar meu condicionamento físico e yoga para aprender a focar, respirar e administrar as dores do trabalho de parto... Sabia que, para aumentar a chance de ter um VBAC com sucesso, qualquer tipo de intervenção medicamentosa poderia resultar em uma nova cesárea e por isso, pedir anestesia estava fora dos planos.
Tb freqüentei à algumas reuniões de apoio à gestante no Gama. Ouvi especialistas no assunto, depoimentos de partos… Além disso, marido e eu fizemos um curso de preparação ao parto. Tudo isso fez parte do processo... Ter plena consciência do que está por vir é de extrema importância e organizar as idéias elaborando um plano de parto, é fundamental. O meu, elaborei por volta da semana 34.

DPP = pizzada!
Ah,  como e bom chegar à DPP sem nenhuma expectativa! Sem pressão familiar ou dos amigos! Como é bom! Para que isso fosse possível, quando as pessoas nos perguntavam "pra quando é?", sem titubear respondíamos a data de duas semanas pós DPP, no caso 03/01, sendo q a DPP era 20/12. Isso tb nos deu mais tranqüilidade, tanto é que marcamos uma pizzada com os amigos neste dia. Coisa boa! Cheers!

Jingle Bells: Chegou o dia!!
24 de dezembro, 40 semanas + 4 dias.
Eram 9h00 da manhã, tinha acabado de sair da cama. Fui ao banheiro e senti uma dor forte no pé da barriga. Passou. Dalí a pouco, outra forte... e outra. Comentei com o marido que tinha algo de estranho e ele sugeriu q eu fosse tomar um banho. Lá fui eu, esperando que aquilo sossegasse, afinal, quando é alarme falso, sossega no banho, não é? rs... Só que não sossegou não! Saí do chuveiro, voltei pra cama e liguei pra Doula, só por precaução.
Desliguei e começamos a cronometrar, uma a cada 3 minutos. Seria possível? Aquilo tinha acabado de começar e já estava assim?
Marido liga pra doula e ela estava vindo pra casa. Mais cronômetro e… uma contração a cada 2 minutos... Marido liga pra Doula e "mudança de planos", ela diz, "nos encontramos no São Luiz".
Toca pro hospital! Mas como conseguiria chegar ao hospital, em plena fase ativa, sem apertar a mão de alguém? Sim, porque até então, estava apertando a mão do marido, mas com ele dirigindo, como seria? Solução: apertar a mão da ajudante do lar,  que tinha começado a trabalhar em casa havia exatos 23 dias!... "Bota a Vanda no carro!" Sussurrei eu entre uma contração e outra... Marido não acreditou, mas achou melhor fazer o que eu estava dizendo!...Kkkkkkk!!
E lá fomos nós, Vanda me doulando, segurando a minha mão, fazendo massagem na nuca (uma fofa!) e eu colocando em prática toda técnica de respiração q aprendi nas aulas de yoga. Inspira, expira...
Chegamos ao hospital, minha Doula oficial - Ana Garbulho,  já estava a minha espera. Demos entrada às 11h00. Fase ativa, bolsa rota, desespero entre as recepcionistas (!!!), chega o médico de plantão. Examina e tã-dã… "dilatação total + 1", diz ele… eu penso "graças a Deus!!" Rs...
Seguimos para o Delivery, com o privilegio de poder escolher entre "sala 1 e sala 2", sim porque, quem há de nascer em plena véspera de Natal? Quem? (cri-cri, cri-cri...).
Mais que depressa, minha Doula começa a encher e preparar a banheira. Eu precisava entrar na água! Precisava ganhar algum fôlego entre uma contração e outra... Entrei. Ah, delícia!... Consegui respirar um pouco e ganhar um pouco de energia, com direito a picolé de limão, que me foi oferecido pela minha Doula querida! Caiu como uma luva, considerando q eu nao tinha nem tomado café da manhã... Tinha engolido umas 3 colheres de mel em casa, e só!
Até então, estava controlando a minha dor apenas com as respirações, mas minha doula me incentivou a começar a vocalizar a cada contração. Arrrhhhhhhh!!! A cada contração, um vocalize, uma nota, um som…





Acho q foram uns 40 minutos de banheira, então foi necessário fazer um cardiotoco. Após o exame, Dr. Jorge sugeriu q eu tentasse esvaziar a bexiga (ou o intestino...). Lá fui eu para o vaso sanitário e de lá, quase nao saio mais…
Nada como a gravidade! Pelo menos no meu caso, essa foi a posição mais confortável, foi a posição que meu corpo escolheu para que meu filho viesse ao mundo.
"Você está indo muito bem! Estou muito orgulhoso!", dizia o marido-maridoulo (❤).
"Força, concentra, respira, vocaliza, se entrega, deixa vir… Ótimo, muito bem!..." Era o que eu ouvia da minha Doula. E eu ali, no vaso sanitário… E da-lhe força!... Veja como é a vida... Logo eu q cheguei a pensar q fosse "to posh to push" ou "chique demais para fazer força" quase pari meu filho ali, no vaso sanitário! Eu bem que tentava levantar e voltar pra banheira, mas a cada tentativa, vinha uma contração daquelas!... e eu voltava pro vaso! rs… Pois é, escolher um parto assim, é despir-se de si mesma, sem pudores, sem vergonha. É entrega total!




Nao tenho uma noção exata de quanto tempo fiquei sentada ali... Acredito q foi algo em torno de uns 30-40 minutos. Cansada... Sim, estava cansada. Foi quando olhei para o médico e disse: "está difícil..." E ele respondeu: "vc está indo muito bem e eu percebi que a sua respiração mudou... Está sentindo o círculo de fogo? Falta pouco!". "Deus te ouça!", pensei eu... Rs...
Logo em seguida, senti que meu filho estava no "ponto do Epi-no"... Era o expulsivo!! Foi quando a Doula sugeriu que eu sentasse na banqueta de parto. Achei ótimo e fui!
Mais algumas forças e a Doula diz: "Dr. está aqui! Está coroando!"
Forrrrça... e sai a cabeça do Chico! Respira e forrrrça... sai o corpinho!... NASCEU!! Ele estava ali! Meu filho nasceu!! "Obrigada meu Deus!", dizia eu, entre risos e lágrimas! Rodrigo não acreditava no que via, me abraçava, chorava, sorria!… Quanta emoção! Cadê a dor que estava aqui? Acabou! Fim!
Que momento! Palavras são palavras apenas… tinha meu bebê nos braços!
Cheira, beija, chora, cheira!... Aquele cheiro! Aquele bebê quentinho, indefeso e aquele cheiro! Ahhhh! Nunca sairá da minha memória!...(❤).




Dr. Douglas (pediatra Néo), estava à postos. Chico chegou e foi direto para o peito da mamãe, sem picadas, sem aspiradas, sem colírio de nitrato de prata... Só colinho, leitinho, gostoso, quentinho!…


Início do TP: 9h00 Final: 13h20… :-)

O saldo:
Hoje, concluo que a forma do nascer não tem a ver com a minha relação mãe x bebê, com o amor aos meus filhos e com a satisfação e alegria ao ver suas carinhas quando vieram ao mundo. Tanto da Duda, quanto do Chico.
Esta experiência me fez entender que é uma conquista pessoal, feminina, da mulher. Me fez entender que não poderia haver forma mais respeitosa de nascimento, a seu tempo, sem pressa, sem violência e que é muito injusto que no Brasil, mulheres não possam escolher, mulheres sequer saibam que há escolha... Me fez entender que Deus me fez perfeita e me deu a capacidade de gerar-gestar-parir. Que recepção gostosa pude dar ao meu filho! Que satisfação! Que benção! Definitivamente, eu  não poderia ter deixado de viver isso!

Gratidão:
Anna Gallafrio: amiga de infância!... Anna Marcia, Anna Mala, Babá, Penê… Foi você que começou tudo isso… Tenho que confessar que demorei a aceitar. Julguei, desmereci. Tantas vezes pensei “isso aí não é pra mim!... Não sou hippie, não sou xiita, não sou radical e não tenho uma horta no meu quintal!...” Demorou pra cair a ficha amiga, mas obrigada pela paciência, pela disposição, pela doulagem virtual, por ser tão sabedora das coisas sobre o nascimento e por ter me dito que existia outra forma de nascer.
Dr. Jorge Khun: pela competência, acolhimento, pela delicadeza e encorajamento, pelo carinho de um pai que quer o melhor à sua filha.
Ana Garbulho: minha doula querida! Palavras são palavras… foram apenas algumas horas de apoio e suporte, mas de tamanha intensidade que me farão ter você pra sempre na minha na mente e coração.
Dr. Douglas N. Gomes:  agradeço por ter protegido meu pequerrucho de dores ao nascer, ao invés disso e antes de mais nada, garantiu-lhe 90 minutos de peito da mamãe!
Rodrigo: Marido-maridoulo! Amado e companheiro… obrigada por ter embarcado nessa viagem comigo, pelo apoio desde sempre, por acreditar que sim, essa era a nossa melhor decisão!
Por último, e mais importante, agradeço ao Doador da Vida, ao meu Deus e Senhor. Àquele que quando diz VIDA, é VIDA!
"Porque dEle e por Ele, e para Ele, são todas as coisas; glória, pois, a Ele eternamente." Romanos 11:36

Welcome Francisco, o nosso Chico! ❤